Afastamento de Walter Feldman se deu, principalmente, porque ele teria apoiado movimento de clubes
“Manda quem pode, obedece quem tem juízo.” A expressão popular traduz bastante o que ocorreu na CBF nos últimos dias. Primeiro, um presidente afastado por acusação de assédio sexual e moral (Rogério Caboclo). Depois, um levante de clubes para criar uma liga independente. Na sequência, a reação simpática do então secretário-geral da entidade, Walter Feldman, à demanda dos clubes. Por fim, sua demissão da casa.
Quem deliberou sobre a saída de Feldman, segundo informações dadas ao Terra por dois integrantes da diretoria da confederação, foi Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF banido do futebol pela Fifa em 2018 por escândalos de corrupção. Apesar de sua exclusão oficial do esporte, Del Nero se mantém como manda-chuva da entidade nacional desde então. Atua nos bastidores e faz de seu apartamento de luxo na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio, o quartel-general da CBF.
O ponto em questão é que Del Nero nunca foi favorável à criação da liga de clubes e agora age para que a medida não saia do papel, em que pese a disposição dos clubes de levá-la adiante. Um aspecto nessa disputa deve ser considerado: para que um grupo (liga, entidade, seja lá quem for) organize o Campeonato Brasileiro, objetivo número 1 de Flamengo, Corinthians e companhia, é preciso que tenha o aval da CBF e das federações estaduais. Aí reside o maior obstáculo dos clubes. E a demissão de Feldman é um aviso de que a confederação não vai ceder facilmente.
Walter Feldman é um homem de diálogo, um canal que tentava minimizar a vocação nula de Marco Polo Del Nero e Rogério Caboclo em se comunicar com federações, clubes e imprensa. Promoveu ações mais amplas na entidade, como o CBF Social, uma iniciativa que se utilizava do prestígio e dos recursos da confederação para fomentar ações de responsabilidade social por meio do esporte.
Como Del Nero foi quem o levou para a CBF em 2015, já para ocupar o cargo de secretário-geral, seu nome ficou bastante associado ao do dirigente banido, muito embora contra Feldman não houvesse nenhuma denúncia de prática de atos ilícitos. Com a ascensão de Caboclo, obra de Del Nero, Feldman se manteve na entidade como porta-voz. Continuava sob a tutela de ambos, mas acalentava um quê de independência. Caiu numa “canetada” do presidente interino, coronel Antônio Nunes, que segue a cartilha de Del Nero à risca.
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