Mandatário destaca que Leão fez bom ano mas, para projetar 2021, equipe precisa permanecer na Série A, fato vital para metas e orçamento recorde
Uma temporada positiva, apesar das condições financeiras desafiadoras e o planejamento para 2021 atrelado à permanência do clube na Série A. Assim o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, avalia a campanha atual.
O mandatário tricolor classificou o 2020 também como marcante, com o bicampeonato estadual e a participação na Copa Sul-Americana, e espera que o Leão consiga a meta de permanecer na elite nas 11 rodadas que serão disputadas até fevereiro, para que o planejamento se concretize e ponha em prática um orçamento recorde de R$ 113 milhões. Vale ressaltar, no entanto, que o clube se despediu do ano na 14º posição, com 31 pontos.
E, após o último jogo de 2020 - empate com o Flamengo (0x0) na Arena Castelão - Paz acredita no trabalho de Marcelo Chamusca e espera evolução para que o 2021 também desafiador seja de sucesso.
DN: Como você avalia o ano do Fortaleza?
Quando a gente começa o ano no Fortaleza, traçamos um planejamento estratégico em todas as áreas e o futebol é uma delas. No Cearense, o aceitável era chegar na final e fomos campeões; na Copa do Nordeste, colocamos que o aceitável era chegar à semifinal e chegamos lá; na Copa do Brasil, qualquer passagem de fase era sucesso, fazendo a ponderação que a gente entrou nas oitavas e não passamos por dois empates. E, no Brasileiro, a nossa meta é ficar na Série A. Sempre falamos isso e estamos nessa batalha. Está dentro do que a gente projetou, não tem nenhum resultado aquém. Então, é um ano que temos o que comemorar, foi dentro do esperado, mas talvez termine um pouco abaixo de 2019. Mas era muito difícil repetir 2019, um ano esportivamente acima da média histórica do clube.
DN: Recentemente, a diretoria não cedeu à pressão da torcida em protesto no Pici e manteve Chamusca. A tendência agora é o trabalho se fortalecer?
Trouxemos o Chamusca acreditando na competência dele. O que não podemos esquecer é que a mudança é sempre traumática e a culpa não é do Chamusca. Um planejamento foi quebrado e já durava três anos. Seria difícil para qualquer um, a mudança é muito sensível e foi forçada. Não foi o clube que a provocou. Eu acompanho o trabalho dele no dia a dia, o quanto ele tem se esforçado, o quanto o grupo de jogadores tem aceitado o trabalho dele. Com o tempo necessário, a tendência é que tudo melhore, que o trabalho evolua. Mudar de novo não me parece a melhor coisa a fazer pelo clube. Temos que trabalhar com convicção, que um bom trabalho parte de uma escolha correta de um profissional que vai conduzir isso até ser assimilado pelo grupo de jogadores.
DN: O ano de 2020 foi muito difícil financeiramente. O que foi determinante para o Fortaleza passar por este período?
Todos os gestores do mundo foram desafiados no ano de 2020 devido à pandemia. Todas as atividades econômicas foram impactadas, outras mais e outras menos, e o futebol muito impactado. Se perdeu receita e causou um desequilíbrio no fluxo de caixa. Tivemos que ser criativos, gerar novas receitas. A parte de loja se manteve bem neste cenário, incrementando o e-commerce. Vendemos muito pela internet com sucesso em venda de camisas, como a “Tradição”, a “Le Bleau”, e a “Glória”. Claro que o clube teve muitas perdas financeiras, o sócio-torcedor caiu 42%, tivemos que renegociar despesas e renegociar dívidas. O ano foi desafiador. Ninguém poderia imaginar uma pandemia e uma perda financeira tão grande como foi.
DN: O que você projeta para o clube em 2021?
O gestor traça cenários, dentro dos possíveis resultados, mas o cenário depende da pandemia e da nossa permanência na Série A. O certo é que vai ser calendário esportivo muito apertado, com todas as competições em 10 meses, de março até dezembro, com o Fortaleza podendo ter quatro ou cinco competições. Enquanto não tiver público no estádio, as receitas serão menores. Tem o match day, que não é só bilheteria, mas camarote, bar, estacionamento, telão que vende anúncio, lojas no estádio, sócio-torcedor que cresce em dia de jogo e que foi impactado sem a volta do público. O clube que achar que em 2021 terá o mesmo dinheiro que teve em 2020, terá dificuldade. Não vejo uma volta do público ao estádio tão rapidamente. O que era previsão antes já não é mais hoje. O cenário é imprevisível pela pandemia. Ou seja, o gestor não pode cair na loucura de gastar o que não tem e endividar o clube. O cuidado para 2021 precisa ser grande.
DN: O clube projeta um orçamento recorde para 2021, de R$ 113 milhões. O planejamento para 2021 requer uma espera da classificação final do Brasileiro?
O orçamento pode ser alterado, estatutariamente, em até 60 dias. Esperamos contar com participação no ano de 2021 em boas competições. Estamos lutando para a Série A, que garante um orçamento muito maior, e quem sabe novamente ir para a Copa Sul-Americana. Vai impactar diretamente o que conseguirmos em campo na temporada, temos que aguardar. O orçamento pode ser ajustado de acordo com a realidade vigente, seguindo o cenário que se desenhar para o próximo ano.
DN: O Fortaleza expandiu a marca para outros esportes, como Futsal, Futebol Feminino e Basquete. Para você, como foi a experiência e o que o torcedor pode esperar para 2021? Um investimento maior?
Nós colocamos um investimento maior no futebol feminino para 2021. Este ano foi relativamente baixo. Quando fizemos o orçamento em 2020, não sabíamos que iríamos jogar a A2, o convite só veio em janeiro. Não sabíamos que ia surgir a oportunidade no Basquete Cearense. São situações que vão surgindo ao longo do ano. Aí cabe decidir se vale a pena, que nível de investimento fazer. O Fortaleza é de verdade um clube, não é só futebol. O clube tem se preocupado em ser competitivo em outras modalidades, atingir novos públicos, não só do futebol, e ampliar nossa marca, gerar nível de engajamento, de consumo em outras pessoas. Se cria uma fidelidade à marca, simpatia, fortalece a marca de um time vencedor, que busca estar sempre representando bem suas cores. Mas o carro-chefe é o futebol profissional, e o investimento maior é sempre nele.
DN: Com calendário praticamente sem pausa entre as temporadas, de apenas quatro dias, como planejar formação do elenco?
É difícil planejar sem ter certeza na classificação final da Série A. Cada cenário é um planejamento diferente. Se ficarmos na Série A é um, ir para Sul-Americana é outro, vamos aguardar. Isso vai nos forçar a tomar decisões em menor tempo de capacidade de análise, mas vai ser para todo mundo. Nos últimos anos, grande parte do elenco permaneceu. Não somos mais um clube que precisamos contratar 10, 12 jogadores ao fim da temporada. A maioria do elenco tem contrato para 2021. Já iniciamos um tipo de conversa com os demais, estamos nos precavendo quanto a isso.
Escrito por Vladimir Marques, vladimir.marques@svm.com.br 23:00 / 29 de Dezembro de 2020. Atualizado às 08:01 / 30 de Dezembro de 2020
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