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Uma bola indestrutível - Descubra como uma simples bola pode mudar a vida de muita gente.

Era uma noite de 2006. Tim Jahhnigen seguia exatamente a mesma rotina de todas as noites de domingo. Estava esparramado no sofá, zapeando canais na TV, até se deparar com um programa sobre refugiados da região da Darfur, no oeste do Sudão, África. A cena que o arrebatou, no meio de tanta tragédia, mostrava crianças jogando futebol num terreno castigado, repleto de pedras e buracos. A bola era feita de lixo, amarado com pedaços de plástico. Era uma noite de 2006.

- Dali em diante não consegui prestar atenção em mais nada. Fiquei atordoado. Foi algo brutal de ver. Aquelas crianças, mesmo naquelas condições, tentavam se divertir. Mas não tinham uma bola decente, o básico do básico. Eu precisava faz alguma coisa, recorda Tim.

Crianças jogam futebol com restos de lixo
 amarrado com plástico na África. 
A primeira reação foi a convencional – ele conversou com a mulher, Lisa, e ambos resolveram doar bolas para aquele canto esquecido do planeta. Não era possível. Por uma razão simples: os campos eram tão ruins que bolas normais duravam muito pouco antes de furar ou explodir.

- Quando uma criança vive numa situação daquelas, de tantas perdas, ver uma bola estourar e pôr fim a brincadeira significa mais um desapontamento, mais uma frustração. Não poderíamos fazer isso com elas, afirma Lisa Jahhnigen.

A segunda reação foi mais ousada. Tim decidiu que iria projetar uma bola indestrutível.

No papel, ele conseguiu. A bola era toda feita com um plástico flexível e muito resistente, que Tim conhecia de projetos da indústria de calçados, acoplado a um sistema de entrada e saída de ar constante. Podia ser furada por pedras, pregos e arames farpados. Podia ser atropelada por carros. E mesmo assim seguiria apta para um jogo despretensioso da criançada.

- A questão é que, para tirar aquilo da prancheta e fazer um protótipo, era preciso de dinheiro. Eu precisava de engenheiros, de material, de uma fábrica. E tudo isso é muito caro, lembra Tim.

O projeto então foi engavetado. Tim e Lisa chegaram a achar que seria impossível realizá-lo. Até que um encontro fortuito com um astro da música mudou tudo bruscamente.

Como o financiamento de Sting viabilizou a produção da bola indestrutível

Como funciona a invenção

A bola foi projetada com um material ao mesmo tempo resistente e muito flexível, usado na indústria de calçados.

A grande sacada do projeto é um sistema que permite entrada e saída de ar, deixando a bola sempre calibrada.

Assim, ela deforma quando pressionada, e depois volta ao estágio normal, sem jamais estourar.

Testes práticos

Com o financiamento de Sting, a bola se tornou realidade em 2009. Protótipos saíram das fábricas e rolaram inicialmente por alguns campos nas redondezas das cidades de Berkley e Okland, na Califórnia.

No princípio, eram recebidas com desconfiança. Yohannes Harish não engoliu a ideia de que aquilo era indestrutível. E tratou logo de chutar forte e pisotear o novo objeto. Ao vê-la resistir a todos os seus esforços, o garoto rememorou o passado. Ele nasceu na Eritréia, país do leste da África, e lá viveu até os 16 anos, até seus pais imigrarem para os EUA em busca de melhores condições de vida. Hoje Yohannes integra um projeto chamado "Futebol Sem Fronteiras", que ajuda refugiados a se integrarem na comunidade americana.

- Depois de uma ou duas semanas de uso nossas bolas sempre estouravam. Então, enchíamos nossas meias com folhas e terra, amarrávamos com um cadarço e fazíamos uma bola que não estourava. Eu gostaria de ver se uma bola dessas aqui lá na África. Queria ver como ela sobreviveria naquelas condições.

Tim também sabia que precisa testar aquele material em campos bem piores do que aqueles da sua vizinhança.

E por isso resolveu submeter à bola a condições extremas.

Como a bola sobreviveu aos testes, era hora de fazê-la cumprir a função para a qual foi criada. Tim então criou com a mulher um projeto chamado "um mundo de futebol", e passou buscar financiamento para produzir em grande quantidade e distribuir as bolas pelo mundo, especialmente em zonas de guerra, comunidades carentes e campos de refugiados.


Ele conseguiu patrocínio de uma grande montadora de veículos. E também abriu vendas para o público no site da empresa (www). Cada bola custa o equivalente a R$ 80. E, para cada peça vendida, uma é doada para uma instituição que lide com crianças carentes.

Em três anos, o projeto correu o planeta. Já alcança 500 mil crianças em 158 países, nos cinco continentes.

- Você leva uma bola a uma comunidade e de repente todas as crianças estão reunidas em torno dela. E uma vez que elas brincam juntas, elas podem se ver como iguais. Esportes, e o futebol em particular, são um veículo para juntar as pessoas, esquecer diferenças, construir comunidades e ensinar a trabalhar juntos para solucionar problemas, diz Tim.

Ele quer crescer, claro. Sonha em distribuir mais de um milhão de bolas até 2014. Quer chegar a mais países - alcançar algumas comunidades no Brasil é uma das prioridades. Mas diz tomar muito cuidado, o tempo todo, para não fugir das pretensões originais do projeto.

- Nós fazemos uma bola. Simples assim. Não temos nenhum envolvimento com política, não nos metemos em outras questões. Não sou especialista em nada. Eu só quero fazer cada vez mais bolas. Nada mais.

É um pensamento simples, como a bola que ele criou. Porque as soluções muitas vezes não precisam ser complexas. No fim das contas, Tim ajuda crianças a serem crianças. Não parece nada. Mas é tudo.


Fonte/Fotos - Globo Esporte

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