Há exatos 60 anos, no dia 7 de julho de 1957 no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, com apena 16 anos de idade jogou os 45 minutos finais do confronto contra a Argentina, naquele dia o Rei do Futebol iniciava sua trajetória pela seleção brasileira. Único jogador a ganhar três edições da Copa do Mundo, Passadas seis décadas, o eterno camisa 10 fala de suas recordações.
"[A lembrança mais forte foi] Quando meu pai [Dondinho] falou que eu tinha sido convocado para defender a seleção. Eu sorri e dei uns passos como sambista, achando que era brincadeira dele. Mas quando ele falou: 'Não brinca porque é verdade', eu quase chorei de alegria", recordou Pelé, 76.
O local em que o ex-jogador deu uma "sambadinha" foi nada mais nada menos do que a sala da presidência do Santos. Na época, Pelé ainda não era famoso nem rico.
De origem humilde, ele morava no alojamento do Santos, em baixo de uma das arquibancadas da Vila Belmiro. Era comum para ele e outros jogadores irem ao escritório da diretoria para falar com os familiares por telefone. Os pais de Pelé moravam em Bauru.
A conversa com o pai ficou mais marcada do que a própria estreia. O Brasil foi derrotado por 2 a 1 e Pelé entrou no time no retorno do intervalo, ocupando a vaga que era de Del Vecchio, companheiro de Santos. O jovem atacante fez o tento de empate, aos 32 minutos. Mas os argentinos desempataram no minuto seguinte.
Talvez Pelé não se lembre, mas o que permitiu que ele fosse chamado pelo técnico gaúcho Sylvio Pirillo para dois jogos contra a Argentina pela extinta Copa Roca foi a "debandada" de alguns craques do futebol brasileiro.
No início de julho de 1957, Botafogo, Vasco e Fluminense estavam fazendo excursões. Jogadores como Nilton Santos, Didi, Garrincha, Zózimo etc. estavam juntos. Então, a CBD (então Confederação Brasileira de Desportos) convocou mais atletas do futebol paulista. Basta dizer que dos 11 titulares, oito eram de São Paulo.
As exceções naquela convocação foram o goleiro Castilho, do Fluminense e o lateral direito Paulinho de Almeida e o zagueiro Bellini, ambos do Vasco, que ficaram no Brasil.
De qualquer forma, Pelé deixou uma imagem muito boa na estreia e foi promovido a titular no segundo jogo contra a Argentina, dessa vez no Pacaembu, em São Paulo. O time canarinho venceu por 2 a 0 e o atacante do Santos marcou novamente.
A seleção faria mais dois jogos em 1957, mas sem que Pelé estivesse presente novamente. Em 1958, já com Vicente Feola no cargo, Pelé foi chamado e ganhou chance até de ir para a Copa do Mundo da Suécia. Embora tenha iniciado o torneio como reserva, ele virou titular no último jogo da fase de grupos (contra a União Soviética) e ficou até o fim. No total, marcou seis gols e foi um dos destaques do inédito título.
Pelé sempre cita a importância daquela conquista e como ele e os demais jogadores atuavam como embaixadores brasileiros nas viagens pela seleção.
"A coisa que mais me marcou quando cheguei na Suécia para a Copa de 58, foi ser recebido por várias garotas loirinhas, perguntando de onde eu era. Ninguém conhecia o Brasil", reforçou Pelé.
Passados 50 anos da estreia de Pelé pela seleção brasileira, os números falam por si só. Foram 114 jogos (entre oficiais e amistosos), com 84 vitórias, 16 empates e 14 derrotas. O Rei do Futebol anotou 95 gols, sendo o maior artilheiro da equipe até hoje. Foi três vezes campeão do mundo e ganhou uma porção de taças menores, como três Copas Oswaldo Cruz, duas Copas Roca, uma Taça do Atlântico e uma Taça Bernardo O'Higgins.
Com tantos troféus e recordes para citar, Pelé prefere mencionar mesmo a "sambadinha". Segundo ele, foi um símbolo de alegria de ter sido lembrado pela seleção.
"Pela globalização de hoje, [creio que] os jogadores são mais internacionais, e, quando são convocados [para defender a seleção], [a notícia] não tem o mesmo impacto daquela época", concluiu o Rei do Futebol.
Até ser convocado por Pirillo há 60 anos, Pelé acumulava 27 jogos e 16 gols pelo Santos em 1957, tendo disputado apenas amistosos e o Torneio Rio-São Paulo (no qual o time alvinegro ficou com a quarta colocação).
O jogador havia treinado na equipe no ano anterior, fazendo dois jogos e dois gols. Tímido, vindo de Bauru, ele virou um fenômeno em pouco tempo. A camisa 10 foi casual naqueles anos. Isso porque Pelé ganhou a vaga no time titular do Santos após o meia-esquerda ter a perna quebrado durante um confronto com o São Paulo - o zagueiro Mauro Ramos caiu na perna do santista e foi o responsável pela tragédia.
Até a Copa de 1958, Pelé fez seis jogos pela seleção (considerando os duelos contra a Argentina, citados acima). Foi titular em três e reserva nos outros. Foi o período em que mais esperou para ser titular.
Depois dessa fase só seria reserva mais uma vez na seleção: em 1966, dois meses antes da Copa da Inglaterra começar. Feola havia convocado um número excessivo de jogadores (46) e portanto fazia experiências nos jogos para encontrar a melhor formação. Foi assim em teste contra a seleção gaúcha.
Pelé teve oito técnicos diferentes na seleção, sendo que Vicente Feola e Aimoré Moreira o comandaram em dois momentos diferentes.
E dois estão nesta lista apesar de o terem comandando uma única vez e em partidas especiais. São os casos de Mário Travaglini e Paulo Roberto Falcão. O primeiro escalou Pelé partida contra o Flamengo, em 1976, feita em homenagem ao ex-atacante Geraldo e que arrecadou fundos para a família dele; e o segundo no aniversário de 50 anos do Rei, em 1990. A CBF considera esses dois jogos com o mesmo peso dos outros 112.
O técnico que teve o melhor aproveitamento na seleção com Pelé foi Feola, entre 1958 e 1960, justamente a que rendeu a primeira Copa do Mundo ao Brasil. Foi de 90,4%.
Pelé não defendeu a seleção em 1961 e 1967 e fez poucos jogos em 1964 e 1971.
Naquela época, o Santos tinha uma calendário recheado de jogos. A equipe disputava o Campeonato Paulista, o Torneio Rio-São Paulo e a Taça do Brasil. Algumas vezes tinha a Taça Libertadores e, em 1962 e 1963, ainda jogou o Mundial Interclubes. Fora isso fazia muitas excursões. Motivos que tiveram Pelé dos jogos.
Lesões também impediram Pelé de estar mais vezes com a camisa da seleção. Isso ocorreu durante a parte final da temporada de 1963 e em boa parte de 1964.
Já no segundo semestre de 1966 e por todo o ano de 1967 Pelé recusou-se a defender a seleção brasileira. Após o fracasso na Copa, ele ficou irritado com a violência dos jogadores no Mundial que o machucaram. Anunciou que não jogaria mais pela equipe canarinho. Acabou revendo a posição e retornou em 1969.
A despedida oficial ocorreu em 1971, já após a conquista do tricampeonato.
Pelé sempre gostou de exaltar o papel que os jogadores do Santos tiveram na década de 1960 de divulgar o Brasil quando viajavam pelo mundo para jogar.
Para ele, a seleção teve o mesmo papel.
Assim, Pelé visitou (com a camisa da seleção) a Europa, as Américas e África. Não foi para a Ásia e para a Oceania, locais que chegou a se apresentar em exibições do Santos.
Pelé entrou 114 vezes em campo pela seleção e marcou 95 gols, mas para muitos historiadores ambos os números estão errando. Eles desconsideram jogos feitos contra clubes (exemplo Atlético-MG, Corinthians, Coritiba etc.) e combinados (seleção amazonense, seleção gaúcha). Assim, creditam 77 tentos em 91 jogos.
Com a camisa da seleção brasileira, Pelé desfilou por 43 estádios diferentes. Alguns modestos como o de Moça Bonita, casa do Bangu. Outros históricos como o Santiago Bernabéu, em Madri, casa do Real e onde enfrentou o Atlético. Abaixo, os 15 jogos onde ele mais atuou.
Foram 51 adversários que tiveram de enfrentar Pelé com a camisa da seleção. Além das principais seleções do mundo, também alguns times tentaram o feito. O caso mais famoso é o do Corinthians, com quem o Brasil fez o último amistoso antes de embarcar para Suécia, em 1958.
Em um Pacaembu lotado, a seleção goleou o Corinthians por 5 a 0. Pelé não marcou e ainda deixou o gramado com uma lesão no joelho após ser atingido de forma violenta por Ari Clemente. Quase perdeu a Copa ali.
Fonte : ESPN
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