"[A lembrança mais forte foi] Quando meu pai [Dondinho] falou que eu tinha sido convocado para defender a seleção. Eu sorri e dei uns passos como sambista, achando que era brincadeira dele. Mas quando ele falou: 'Não brinca porque é verdade', eu quase chorei de alegria", recordou Pelé, 76.
O local em que o ex-jogador deu uma "sambadinha" foi nada mais nada menos do que a sala da presidência do Santos. Na época, Pelé ainda não era famoso nem rico.
A conversa com o pai ficou mais marcada do que a própria estreia. O Brasil foi derrotado por 2 a 1 e Pelé entrou no time no retorno do intervalo, ocupando a vaga que era de Del Vecchio, companheiro de Santos. O jovem atacante fez o tento de empate, aos 32 minutos. Mas os argentinos desempataram no minuto seguinte.
Talvez Pelé não se lembre, mas o que permitiu que ele fosse chamado pelo técnico gaúcho Sylvio Pirillo para dois jogos contra a Argentina pela extinta Copa Roca foi a "debandada" de alguns craques do futebol brasileiro.
No início de julho de 1957, Botafogo, Vasco e Fluminense estavam fazendo excursões. Jogadores como Nilton Santos, Didi, Garrincha, Zózimo etc. estavam juntos. Então, a CBD (então Confederação Brasileira de Desportos) convocou mais atletas do futebol paulista. Basta dizer que dos 11 titulares, oito eram de São Paulo.
As exceções naquela convocação foram o goleiro Castilho, do Fluminense e o lateral direito Paulinho de Almeida e o zagueiro Bellini, ambos do Vasco, que ficaram no Brasil.
De qualquer forma, Pelé deixou uma imagem muito boa na estreia e foi promovido a titular no segundo jogo contra a Argentina, dessa vez no Pacaembu, em São Paulo. O time canarinho venceu por 2 a 0 e o atacante do Santos marcou novamente.
A seleção faria mais dois jogos em 1957, mas sem que Pelé estivesse presente novamente. Em 1958, já com Vicente Feola no cargo, Pelé foi chamado e ganhou chance até de ir para a Copa do Mundo da Suécia. Embora tenha iniciado o torneio como reserva, ele virou titular no último jogo da fase de grupos (contra a União Soviética) e ficou até o fim. No total, marcou seis gols e foi um dos destaques do inédito título.
Pelé sempre cita a importância daquela conquista e como ele e os demais jogadores atuavam como embaixadores brasileiros nas viagens pela seleção.
"A coisa que mais me marcou quando cheguei na Suécia para a Copa de 58, foi ser recebido por várias garotas loirinhas, perguntando de onde eu era. Ninguém conhecia o Brasil", reforçou Pelé.
Passados 50 anos da estreia de Pelé pela seleção brasileira, os números falam por si só. Foram 114 jogos (entre oficiais e amistosos), com 84 vitórias, 16 empates e 14 derrotas. O Rei do Futebol anotou 95 gols, sendo o maior artilheiro da equipe até hoje. Foi três vezes campeão do mundo e ganhou uma porção de taças menores, como três Copas Oswaldo Cruz, duas Copas Roca, uma Taça do Atlântico e uma Taça Bernardo O'Higgins.
Com tantos troféus e recordes para citar, Pelé prefere mencionar mesmo a "sambadinha". Segundo ele, foi um símbolo de alegria de ter sido lembrado pela seleção.
"Pela globalização de hoje, [creio que] os jogadores são mais internacionais, e, quando são convocados [para defender a seleção], [a notícia] não tem o mesmo impacto daquela época", concluiu o Rei do Futebol.
Até ser convocado por Pirillo há 60 anos, Pelé acumulava 27 jogos e 16 gols pelo Santos em 1957, tendo disputado apenas amistosos e o Torneio Rio-São Paulo (no qual o time alvinegro ficou com a quarta colocação).
O jogador havia treinado na equipe no ano anterior, fazendo dois jogos e dois gols. Tímido, vindo de Bauru, ele virou um fenômeno em pouco tempo. A camisa 10 foi casual naqueles anos. Isso porque Pelé ganhou a vaga no time titular do Santos após o meia-esquerda ter a perna quebrado durante um confronto com o São Paulo - o zagueiro Mauro Ramos caiu na perna do santista e foi o responsável pela tragédia.
Até a Copa de 1958, Pelé fez seis jogos pela seleção (considerando os duelos contra a Argentina, citados acima). Foi titular em três e reserva nos outros. Foi o período em que mais esperou para ser titular.
Depois dessa fase só seria reserva mais uma vez na seleção: em 1966, dois meses antes da Copa da Inglaterra começar. Feola havia convocado um número excessivo de jogadores (46) e portanto fazia experiências nos jogos para encontrar a melhor formação. Foi assim em teste contra a seleção gaúcha.
Pelé teve oito técnicos diferentes na seleção, sendo que Vicente Feola e Aimoré Moreira o comandaram em dois momentos diferentes.
E dois estão nesta lista apesar de o terem comandando uma única vez e em partidas especiais. São os casos de Mário Travaglini e Paulo Roberto Falcão. O primeiro escalou Pelé partida contra o Flamengo, em 1976, feita em homenagem ao ex-atacante Geraldo e que arrecadou fundos para a família dele; e o segundo no aniversário de 50 anos do Rei, em 1990. A CBF considera esses dois jogos com o mesmo peso dos outros 112.
O técnico que teve o melhor aproveitamento na seleção com Pelé foi Feola, entre 1958 e 1960, justamente a que rendeu a primeira Copa do Mundo ao Brasil. Foi de 90,4%.
Pelé não defendeu a seleção em 1961 e 1967 e fez poucos jogos em 1964 e 1971.
Naquela época, o Santos tinha uma calendário recheado de jogos. A equipe disputava o Campeonato Paulista, o Torneio Rio-São Paulo e a Taça do Brasil. Algumas vezes tinha a Taça Libertadores e, em 1962 e 1963, ainda jogou o Mundial Interclubes. Fora isso fazia muitas excursões. Motivos que tiveram Pelé dos jogos.
Lesões também impediram Pelé de estar mais vezes com a camisa da seleção. Isso ocorreu durante a parte final da temporada de 1963 e em boa parte de 1964.
Já no segundo semestre de 1966 e por todo o ano de 1967 Pelé recusou-se a defender a seleção brasileira. Após o fracasso na Copa, ele ficou irritado com a violência dos jogadores no Mundial que o machucaram. Anunciou que não jogaria mais pela equipe canarinho. Acabou revendo a posição e retornou em 1969.
A despedida oficial ocorreu em 1971, já após a conquista do tricampeonato.
Pelé sempre gostou de exaltar o papel que os jogadores do Santos tiveram na década de 1960 de divulgar o Brasil quando viajavam pelo mundo para jogar.
Para ele, a seleção teve o mesmo papel.
Assim, Pelé visitou (com a camisa da seleção) a Europa, as Américas e África. Não foi para a Ásia e para a Oceania, locais que chegou a se apresentar em exibições do Santos.
Pelé entrou 114 vezes em campo pela seleção e marcou 95 gols, mas para muitos historiadores ambos os números estão errando. Eles desconsideram jogos feitos contra clubes (exemplo Atlético-MG, Corinthians, Coritiba etc.) e combinados (seleção amazonense, seleção gaúcha). Assim, creditam 77 tentos em 91 jogos.
Com a camisa da seleção brasileira, Pelé desfilou por 43 estádios diferentes. Alguns modestos como o de Moça Bonita, casa do Bangu. Outros históricos como o Santiago Bernabéu, em Madri, casa do Real e onde enfrentou o Atlético. Abaixo, os 15 jogos onde ele mais atuou.
Foram 51 adversários que tiveram de enfrentar Pelé com a camisa da seleção. Além das principais seleções do mundo, também alguns times tentaram o feito. O caso mais famoso é o do Corinthians, com quem o Brasil fez o último amistoso antes de embarcar para Suécia, em 1958.
Em um Pacaembu lotado, a seleção goleou o Corinthians por 5 a 0. Pelé não marcou e ainda deixou o gramado com uma lesão no joelho após ser atingido de forma violenta por Ari Clemente. Quase perdeu a Copa ali.
Fonte : ESPN
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