Criado em 2020, time impressiona com estrutura e resultados expressivos; presidente é filho de empresário investigado em CPI da Pirataria e desconversa sobre origem do dinheiro investido;
Com pouco mais de dois anos de existência e de filiação à Federação Paulista de Futebol (FPF), o Ibrachina tem chamado a atenção nos campeonatos de base em São Paulo, batendo de frente com Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos. Nesta sexta-feira, o time eliminou o Vasco na segunda fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Na terceira fase da Copinha, o Ibrachina terá como adversário o Hercílio Luz, de Santa Catarina. É a melhor campanha do time paulista na sua segunda participação na história da competição.
Criado a partir de um projeto social, o clube tem a ambição de ser um dos maiores reveladores de jogadores no Brasil e migrar para o futebol profissional.
Sediado no bairro da Mooca, em São Paulo, casa do tradicional Juventus, o Ibrachina conta com uma estrutura que atende jovens das categorias sub-15, sub-17 e sub-20, além de crianças das comunidades de Heliópolis e São Mateus (conheça as instalações do Ibrachina no vídeo abaixo).
O clube tem como presidente o empresário Henrique Law, filho do casal Law Kin Chong e Miriam Law, investigado atualmente na CPI da Pirataria, conduzida pela Câmara Municipal de São Paulo, que apura a venda irregular e contrabando de produtos no comércio popular de São Paulo, localizado nas regiões da rua 25 de março, Brás e Pari.
O irmão
de Henrique, Thomas Law, preside o instituto sociocultural que atende pelo
mesmo nome e é dedicado à promoção e integração entre as culturas e os povos do
Brasil, da China e de outros países que falam português.
– Começamos a identificar muitos talentos com os meninos
que trabalhamos em Heliópolis e São Mateus, então decidimos criar um clube
formador. O nome surgiu através do Instituto Brasil China, que foi criado
através da minha pessoa e do meu irmão, Thomaz, com o intuito de divulgar as
questões da cultura chinesa – explicou Henrique Law, presidente do Ibrachina.
Escudo do Ibrachina Futebol Clube, de São Paulo
Foto: Emilio Botta
Clube nasceu durante a pandemia
O projeto do Ibrachina teve início em paralelo com as restrições em todo o mundo em virtude da pandemia de Covid-19. Seguindo protocolos e mantendo peneiras para buscar talentos, o clube se beneficiou diante de um cenário de incerteza que dominou o futebol brasileiro de base entre 2020 e boa parte de 2021. Como muitos clubes paralisaram as atividades por conta das restrições e a ausência de campeonatos de base, o Ibrachina conseguiu atrair muitos jogadores que até então atuavam em clubes como Portuguesa, São Caetano, São Bernardo e até Palmeiras.
Ibrachina Arena, na Mooca, casa do Ibrachina — Foto: Divulgação/Ibrachina
A
chegada desses jogadores e a manutenção da atividade do clube foram
determinantes para o Ibrachina conseguir bons resultados dentro de campo, mesmo
com pouco tempo de atividade.
O clube tem como mascotes a arara e o dragão, representando
as culturas de Brasil e China, respectivamente.
A base vem forte
Apesar do pouco tempo de existência, o Ibrachina tem colecionado resultados importantes nas categorias sub-15, sub-17 e sub-20 do Campeonato Paulista, além de bom desempenho em sua primeira participação na tradicional Copa São Paulo de Futebol Jr, em 2022.
Debutante no maior campeonato de base do futebol brasileiro, o clube fez boa campanha na fase de grupos e caiu no primeiro mata-mata, sendo eliminado pelo Oeste nos pênaltis sem ser derrotado. Foram quatro jogos, com três vitórias, um empate, nove gols marcados e apenas dois sofridos.
Ibrachina goleia o Santos por 4 a 1 pelo Paulista Sub-20
O bom desempenho na Copinha refletiu no Paulista Sub-20, um dos mais disputados do país. Nas quartas de final, o Ibrachina goleou o Santos por 4 a 1, mas foi goleado por 4 a 0 na volta e acabou sendo eliminado.
No Paulista Sub-17, venceu o primeiro jogo, mas acabou derrotado na volta e também acabou eliminado nas quartas de final, desta vez pelo Palmeiras. Na reta final da primeira fase, bateu o Corinthians, fora de casa, garantindo a classificação e eliminando o rival do estadual.
No estadual Sub-15 o desempenho também foi bom: o "Dragão da Mooca", apelido do Ibrachina, avançou até as quartas de final, sendo eliminado pelo São Paulo.
Grandes de olho
O Ibrachina começa a colher os frutos dos bons desempenhos na base. Recentemente, o clube negociou jogadores com Corinthians, Atlético-MG, Palmeiras, Ceará e Flamengo.
O atacante Riquelme assinou contrato de três anos com o Palmeiras, sendo considerado um dos mais promissores jogadores formados no clube. O lateral Daniel e o volante Gabriel Santini fecharam com o Flamengo, enquanto o zagueiro Renan está na base do Atlético-MG.
O clube busca ampliar a sua captação e também firmar parceria de intercâmbio com o futebol chinês. Atualmente, conta com dois jogadores bolivianos no elenco sub-20.
E a grana, de onde vem?
O investimento na construção de uma arena e de toda a estrutura que compõe o centro de treinamento do Ibrachina não foram especificados pelo presidente Henrique Law.
O homem à frente do clube tem família ligada ao comércio popular de um dos maiores centros comerciais do mundo, na região da rua 25 de março, em São Paulo. O pai, Law Kin Chong, chegou a ser preso duas vezes pela Polícia Federal sendo apontado como um dos maiores contrabandistas do Brasil.
Law Kin Chong e Miriam Law, mãe de Henrique, segundo informações da CPI da Pirataria*, seriam proprietários ou administradores de 27 shoppings de comércio popular na capital, que estão no escopo das investigações da Comissão. Eles deverão prestar depoimento como testemunhas.
Nascido em Hong Kong, Law Kin Chong ficou preso entre 2004 e 2007 por corrupção ativa, segundo a Polícia Federal. Em 2008, ele foi preso mais uma vez, desta vez pelos crimes de contrabando e descaminho. A prisão ocorreu pouco depois que um de seus empreendimentos ser multado em mais de R$ 2 milhões pela prefeitura de São Paulo.
Henrique Law, presidente do Ibrachina — Foto: Emilio Botta
Henrique Law nega que os pais tenham ligação com o projeto e que o dinheiro investido venha dos negócios da família, que é dona da loja Empório Daruma, patrocinadora máster do clube.
– A questão de investimento é relativo. A gente trabalha bastante visando um retorno com resultado positivo com a performance dos meninos, mas isso é uma questão que a gente consegue avaliar um pouco melhor com esse retorno que estamos imaginando.
– Não, não (sobre a participação do pai no clube). Isso seria apenas uma coisa minha mesmo – explicou Law.
*A CPI da Pirataria tem como objetivo analisar e investigar a evasão fiscal, a sonegação, a pirataria e a falsificação na cidade de São Paulo. Além de fiscalizar a comercialização de produtos piratas na capital paulista, a Comissão também vai investigar empresas por suposta evasão fiscal. Os trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pirataria foram oficialmente prorrogados até 8 março de 2023.
Futebol profissional
Atualmente, o Ibrachina concentra seus investimentos e foco no futebol de base. A entrada no profissional é algo que deve acontecer naturalmente, já que o clube almeja disputar competições nacionais de base, precisando ter ranqueamento na CBF e estar disputando uma divisão profissional.
Caso resolva entrar no futebol profissional, o Ibrachina iniciaria na quarta e última divisão do Paulista, competição que tem limite de idade de 23 anos. Ou seja, o projeto seria mais viável para o time que trabalha com a categoria sub-20, podendo usar os jogadores acima do limite de idade para disputar o estadual.
– Hoje, somos um clube formador apenas. Lógico que futuramente a gente quer dar um voo um pouco mais alto e estamos almejando sim nos profissionalizar – projetou Law.
Fonte: GE
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