O Barbalha vive uma situação delicada dentro de fora dos gramados.
Após duas derrotas seguidas no Campeonato Cearense, a última por 5 a 2 para o
Ferroviário, o clube do Cariri está com salários atrasados no elenco, um dos
motivos para os atletas prestarem Boletim de Ocorrência na Delegacia de
Juazeiro do Norte, neste sábado (27).
O meia Eduardo Souza, titular da equipe comandada por Higor César,
denunciou o clube por maus-tratos, deixando atletas sem alimentação, além de
meses sem os devidos pagamentos.
"Assinei o contrato 17 de dezembro e não recebi nenhum
salário. Minha carteira não foi assinada. Exames necessários para o campeonato
não fizemos. Teve dias que quase não tínhamos com o que nos alimentarmos. Antes
do último jogo, não jantei porque não tinha. Várias vezes corremos o risco de
sermos despejados da pousada. Quase todos do elenco moram de aluguel, são pais
de família. Como vão pagar as contas sem salário?", explicou o
profissional.
Legenda: Segundo Eduardo e Xexeu, nenhum atleta realizou exames
médicos necessários antes do começo da competição
Foto: Reprodução
O volante Danilo de Assis, conhecido como Xexeu, também prestou
denúncia pelo atraso dos salários e relatou que não fizeram exames médicos
exigidos para a disputa do Estadual.
"Não fizemos exames, apenas o da Covid, feito pela Federação.
Meu salário vai fazer um mês e meio. Me deram só 50%. Teve um dia que comemos
pizza na janta ou comida azeda. Isso não existe. Isso levou ao ponto de
fazermos o B.O", declarou o atleta.
Ameaças para vestir a camisa
Roberta Esmeraldo, advogada dos jogadores, descobriu que a
carteira de trabalho de Eduardo não foi assinada pelo Barbalha. Segundo ela, o
clube utilizou documento de outro profissional para realizar o registro no
Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF),
necessário para que o atleta atue regularmente.
"O Eduardo se recusou a viajar na sexta para a partida porque
não recebeu os pagamentos. Quando chegamos na pousada, descobrimos que eles
cortaram a alimentação e a estadia. Ele mora em São Gonçalo do Amarante, em Rio
Grande do Norte. Nem o dinheiro da passagem de volta para casa o clube pagou.
Quando peguei a carteira de trabalho, vi que nunca assinaram. A CBF só permite
o atleta entrar em campo se estiver no BID com a assinatura da carteira. Vimos
que, possivelmente, foi anexada outra carteira de trabalho", revelou
Roberta.
A advogada também contou que Xexeu recebeu ameaças do presidente
da Raposa, Roberto Macedo, caso o jogador não entrasse em campo pelo Cearense.
Legenda: B.O. realizado por Eduardo
Foto: Reprodução
"O Xexeu foi ameaçado pelo presidente, dizendo que se não
fosse jogar, não ia receber nem os salários atrasados. Ele foi jogar por coação
mesmo. Desde dezembro, não houve um pagamento", disse Roberta à
reportagem.
Gilson Alves, tesoureiro do clube, alega desconfiança por parte
dos atletas quanto ao combinado para receber o dinheiro restante.
"Mediante à crise financeira, alguns atletas não querem
entrar em campo. Eles estão desconfiados de receber o valor da empresa. Ficou
acertado pagar no vestiário. A metade do salário já foi pago. São oito atletas
que não vão ao jogo hoje, estão em casa. A maior parte deles já foi
embora", contou o profissional.
O Barbalha está na 6ª posição na tabela de classificação da Série
A estadual, com quatro pontos, na briga contra o rebaixamento. A equipe
enfrenta o Caucaia nesta segunda-feira (1) pela 5ª rodada da competição, às
15h30, no Inaldão. Porém, com a falta de opções no elenco devido à crise, o
time do Cariri pode perder por W.O.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do
Barbalha, mas não obteve retorno.
Crise que se estende
Em 2020, o clube já viveu outra situação complicada com o
ex-presidente Lúcio Barão, afastado por acusação do então vice e atual
mandatário, por desvio de receitas, não prestação de contas do clube,
falsificação de assinatura de rescisão de contrato e envolvimento de fraudes em
apostas esportivas.
O dirigente foi condenado pelo conselho de ética da CBF e banido
do esporte brasileiro pela Primeira Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça
Desportiva de Futebol do Estado (TJDF-CE). Entretanto, ao recorrer ao Pleno do
Tribunal, teve a pena reduzida para afastamento do cargo por 300 dias desde
julho.
Além de Barão, outros funcionários foram julgados no processo: o
tesoureiro Gilson Alves, foi multado em R$ 40 mil por descumprir obrigação
legal do cargo, enquanto Cícero Nacélio, membro do Conselho do clube, foi
multado em R$ 60 mil, enquadrado no artigo 220-A do CBJD.
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