Setorista das duas maiores foças do futebol cearense os
repórteres Danilo Queiroz e Anderson Azevedo fararam ao portal Tribuna do Ceará
sobre suas rotinas diárias no Pici e em Porangabussu.
Danilo Queiroz tem 39, e é setorista do Ceará desde 1994.
Anderson Azevedo é mais jovem, 26, e cobre diariamente o Fortaleza há dois
anos.
No papo, um pouco do trabalho diário deles, falaram
abertamente como funciona relação com outros repórteres e assessoria de
imprensa dos clubes, a cobertura da Copa do Mundo, os furos e outras
curiosidades.
T C: Para vocês, que são repórteres de clubes, como foi a
sensação de cobrir a Copa do Mundo 2014?
Danilo Queiroz: A cobertura foi especial, porque eu fazia
matérias para São Paulo e Rio de Janeiro. Mas a grande diferença é a questão
periférica da Copa do Mundo, porque a cobertura em relação a atletas,
entrevistas e escalações estavam sendo feitas pela rede (Grupo Bandeirantes) e
também porque trabalhamos para um público diferente.
A cobertura pra mim era mais junto ao torcedor, ao
comportamento, a forma como se portava e a avaliação da Copa do Mundo em si no
Brasil. Porém, o recorte era Fortaleza. Um dos focos era o que o espectador
achava da Arena Castelão, da recepção que a cidade teve, entre outros.
Anderson Azevedo: Foi um momento único, algo diferente e
totalmente ao contrário de cobrir um clube de futebol. Até porque você chega no
clube, geralmente tem um conhecimento das pessoas, a quem se reportar, sendo
que na Copa não existe nada disso.
Eu fui cobrir as seleções desde os treinamentos e suas
hospedagens. Chegava em um hotel e só tinha mais ou menos a hora em que a
seleção ia chegar. Depois disso tentava entrar em contato com algum
representante da seleção e geralmente as informações eram desencontradas, e às
vezes não sabia o que fazer. Foi um desafio. Entrevistei torcedores, percebi
qual a visão que os estrangeiros têm de Fortaleza. Foi bacana.
TC: Qual a diferença entre a cobertura da Copa do Mundo e o
futebol cearense?
Danilo Queiroz: A principal diferença é o clima que cerca os
jogos. No jogo Brasil x México, eu entrei no Castelão e todo mundo estava
junto, uns passavam e soltavam uma piadinha, mas todos estavam sorrindo. Na
cobertura do futebol cearense isso não existe. No clássico Ceará e Fortaleza, a
separação tem que ser feita de uma forma brutal, que a polícia muitas vezes
fica com receio de fazer a divisão. Na Copa, tanto dentro como fora do estádio,
havia um clima diferente.
Anderson Azevedo: A principal diferença na cobertura do
futebol cearense pra Copa, é que no clube você tem uma abertura maior, tem
aquela aproximação maior com as pessoas. Seleção é diferente, você não tem
acesso a nada.
TC: Como é o dia a dia de vocês nos respectivos clubes?
Danilo Queiroz: Depende do dia e do horário do treino. Se
for à tarde, chego às 15h30, pois o treino começa, normalmente, às 16 horas, no
campo. Normalmente os setoristas chegam nesse, porque não temos acesso a
ACADEMIA, e a coletiva varia muito entre 17h30 e 18h. Quando acaba o
treinamento, fico fazendo matérias do clube mesmo, porque a empresa
disponibilizou um laptop pra mim. Quando tem algo especial, participo do
programa Tribuna Band News Edição da Noite, às 18h, com Fernando Graziani e
Delane Ratts. Finalizada a minha participação, chego em casa e gravo material
para o programa do outro dia, que é o Tribuna Band News Esporte, de
apresentação do Jussiê Cunha.
Anderson Azevedo : Chego no clube por volta das 15h30 ou
16h, que é o começo do horário do expediente. Ficamos em uma sala reservada
para a imprensa e ficamos esperando o fim do treinamento. Após o treino, vamos
para coletiva. Acabada a entrevista com algum jogador, comissão técnica ou
diretoria, vou para casa e, assim que chego, tenho que mandar um boletim do
clube, por volta de dois minutos de duração, para a rádio. A veiculação do
material acontece às 22 horas.
TC: Como funciona as entrevistas exclusivas no Ceará e
Fortaleza?
Danilo Queiroz : O setorista tem que conversar com a
assessoria do clube, com uns quatro dias de antecedência, e pede a exclusiva.
Depois da solicitação, o assessor encaminha o jogador para um local reservado,
juntamente com o repórter.
Anderson Azevedo : Varia muito, porque a proposta da Tribuna
Band News é fazer diferente, ir além do comum. Quando a gente vai tentar,
primeiro temos que entrar em contato com a assessoria do clube. Todo atleta pra
falar com a imprensa passa pelo responsável de comunicação do clube, que no
caso é o Nodge Nogueira. Explicamos ao assessor, e se o atleta tiver tempo
disponível, geralmente dá. Quando não, então tentamos marcar um outro dia,
porém, a maioria dos companheiros não entendem isso.
TC: Como vocês dão os furos de reportagem?
Danilo Queiroz: Vou falar de mim, particularmente. Tem que
ter medo de dar a notícia. Cheque uma, duas, inúmeras vezes, porque o que
parece ser certeza absoluta, pode ser uma grande besteira, não tendo nada a
ver. Então você tem que checar várias vezes, e quando você tiver certeza
absoluta, dê a informação.
Anderson Azevedo : Isso é relativo. O furo tem que vir, pra
ter 100% de confiança, de alguém de dentro do clube. Quando a informação
“vaza”, geralmente algum diretor ou um conselheiro, se você tem uma amizade
maior, aí fica mais fácil. A preocupação da rádio é passar uma informação
verídica. O problema do furo é esse, que vc julga ser verdadeira e de repente o
cara não vem, aí acaba manchando o nome da instituição, como o nome do repórter.
TC: Já ocorreu algum problema com outros setoristas?
Danilo Queiroz : A minha relação com os outros setoristas é
muito boa, porém, nem sempre foi assim. Quando eu cheguei lá, havia um
pensamento dos outros em “roubar o espaço”. Mas isso foi bem no começo. Hoje,
os que estão lá são unidos.
Anderson Azevedo : Nunca tive. Os repórteres têm uma relação
de amizade. Somos profissionais do rádio, então quem está lá dentro é um
ajudando ao outro. Caso um setorista chegue atrasado, o outro repassa a
informação.
TC: Amizade com atletas e dirigentes é importante para se
ter informação privilegiada?
Danilo Queiroz : Não. Creio que amizade prejudica sua
autonomia de dar a informação. O jornalista tem que manter uma relação de
cordialidade, pois a amizade em si é um relacionamento forte. O meio termo
precisa existir. Não pode ser brigado, mas, ao mesmo tempo, não precisa ter uma
relação tão próxima. Tem que haver a proximidade normal de quem trabalha dessa
forma, mas tem que ter a distância regulamentar.
Anderson Azevedo : Com certeza. Através disso você vai conseguir
informações que não serão divulgadas de forma oficial pela assessoria do clube.
Por Lucas Matos em Futebol cearense
Tribuna do Ceará
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